terça-feira, 18 de maio de 2010

A Psicoterapia




«Para Podermos entender um Eu de outro, teremos que ser um outro para o Eu.»
Teresa Ferreira





A função da psicologia é tão ancestral como todas as formas de tentar aliviar a dor humana, já que face ao sofrimento psicológico foram surgindo em todas as épocas e todas as sociedades alguém a quem era entendido o poder de curar e aconselhar, quer pelos seus dons da palavra, quer pelas suas competências espirituais. O guru espiritual, o padre ou a “bruxa” eram confidentes de segredos, onde o poder da palavra, quer através de rituais mágicos ou orações, e a confidência levava à catarse que libertava de algumas angústias e fantasmas.
Até ao surgimento da psicoterapia, e desde os tempos remotos, que o alivio da dor psicológica se fazia pelo acesso ao sagrado e à magia. A palavra parecia ter um poder mágico de libertação, levando à mudança emocional.

A psicoterapia vai além do mero uso da palavra, alheando-se a rituais sagrados, tem a sua base e metodologia em técnicas e critérios teóricos específicos que levam à construção de uma aliança terapêutica que visa tornar o mais harmonioso possível o funcionamento psicológico. Assenta numa relação estabelecida entre um técnico com formação especializada – o psicoterapeuta – e o paciente, que consoante a queixa e problema irá se desenrolar num setting específico e num tempo determinado.

O psicoterapeuta deverá surgir com uma função contentora de angústias, geralmente, auxiliando a reparação do mundo interior. Não é uma função fácil, devido à sua morosidade e complexidade devido ao investimento que é necessário de ambas as partes – psicoterapeuta e paciente – porém compete ao terapeuta não desistir, mantendo a sua disponibilidade até ao limite, de forma a auxiliar na libertação das angústias.

A multiplicidade de filosofias e de campos teóricos, conduziu ao aparecimento de um leque variado de psicoterapias (individual, de grupo, de orientação dinâmica, comportamental, cognitiva, de casal, sistémica, de apoio, infantil, grupanálise, psicodrama etc.), sendo todas elas eficazes e possíveis de melhorias, independentemente do modelo a que estejam associadas, pois o que importa é encontrar a terapia mais indicada para o problema em questão ou segundo o tipo de funcionamento psicológico.

Seria erróneo afirmar que uma psicoterapia é mais eficaz do que outra, isto porque cada caso é um caso e, por exemplo, enquanto para alguns pacientes são necessários tratamentos mais longos, outros beneficiarão em prazos mais curtos. Neste sentido é importante salientar a importância de que nem todas as terapias são adequadas a todos os pacientes.

Uma psicoterapia só tem início uma vez estabelecido o contrato terapêutico, o qual é como um contrato de trabalho onde existe um acordo entre paciente e terapeuta das condições mínimas do funcionamento da intervenção. Faz parte do contrato o acordo das modalidades práticas de funcionamento, como a periodicidade das sessões, o tempo de duração de cada uma delas e caso seja possível o tempo previsto para a duração da psicoterapia de apoio.

Ao longo das sessões é essencial que se estabeleça uma aliança terapêutica entre o terapeuta e o paciente, ou seja, uma relação de confiança. No espaço terapêutico deverá existir confiança do paciente sobre o psicólogo, de modo que este consiga falar à vontade sobre o que quiser. Assim, para que exista a aliança, implica que hajam vínculos internos de relação muito fortes e interioridade que permita uma tranquilidade do paciente para se expor sem preconceitos. Desta forma, na relação terapêutica vai-se criando a base para a aliança terapêutica, e é no auge desta que se dão grandes mudanças e metamorfoses, e é quando ocorrem as melhoras. Quanto mais forte é a aliança terapêutica, mais a pessoa muda, pois existe uma confiança e tranquilidade para se expor.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Inspire-se!Motive-se!Arrisque...

Tudo começa por um ponto...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Anorexia e Bulimia


Malditos Espelhos - Perturbações do Comportamento alimentar
Malditos espelhos!
Caminho a passos largos evitando todo e qualquer reflexo...fujo de mim mesma. Pedaços de imagens reflectidas espelham o meu (?) corpo. Repugna-me. Atormenta-me. E a culpa espreita. Malditos espelhos que me perseguem....que trazem toda esta angústia reflectida e carregam-me de mal-vindos pensamentos.
Numa sociedade, cada vez mais, exigente e ditada por ideais de perfeição, sentimo-nos pressionados e influenciados a seguir os modelos que nos impõem. Apesar de vivermos num mundo de diversidade, e de tantas campanhas pela não-discriminação e pela aceitação (Quem não se lembra da propaganda da Bennetton: «Todos diferentes, todos iguais»?), o apelo publicitário às formas 86-60-86, grita todos os dias em cada desfollhar de revistas/jornais, em cada anúncio que passa na televisão, em cada manequim das lojas de vestuário...trazendo-nos o sentimento de vergonha quando olhamos o reflexo no espelho, ou a culpa quando ousamos comer prazerozamente um hamburguer com todas as iguarias a que tem direito!
Inevitavelmente leva-nos a focar o nosso pensamento no corpo, detectando os seus “defeitos” e sonhando com os ideais a alcançar (menos barriga, pernas assim ou assado, rabo XPTO), planeando estratégias para atingir as metas definidas (apesar da procrastinação muitas vezes ganhar nesta batalha). Felizmente estes pensamentos vão e vêem pontualmente, quando despertados por alguma imagem utópica (que nos faz roer de inveja) com as suas formas platónicas, o que causa uma angústia subtil e transitória.
O problema surge quando estes pensamentos não descolam da nossa mente, envolvendo todo o nosso sentir e agir, implicando alterações na nossa qualidade de vida e afectando as esferas relacional, profissional/escolar, alimentar, corporal...
Nesse caso, estamos perante uma perturbação do comportamento alimentar, o que exige uma emergente procura de apoio de técnicos especializados, para que se possa intervir e restaurar o equílibrio emocional e pessoal.
Nas pertubações de comportamento alimentar ocorre uma alteração na forma de comportar em relação á alimentação, o que está relacionado com a percepção que o sujeito tem da sua imagem corporal e com crenças distorcidas e disfuncionais acerca de peso, do formato corporal, alimentação e valor pessoal.
As perturbações de comportamento alimentar mais incidentes são a Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa, as quais sucintamente passo a descrever:
Na Anorexia Nervosa há uma perda de peso associada a uma progressiva mudança de comportamento alimentar, o que pode ter inicio através de uma dieta normal ou de uma restrição alimentar brusca. É frequente ocorrer um isolamento social, deteriorando-se as relações familiares e pessoais, devido a um foco obssessivo na alimentação.
Podemos apontar como sintomas:
Sintomas Físicos:
Perda visível de peso;
Dificuldade ao nível do sono;
Dores de estômago;
Perda de cabelo;
Sensação de frio constante;
Transtornos circulatórios;
Menstruação irregular ou inexistente;
Perda da força;
Dores de cabeça, tonturas e desmaios;
Palidez;
Lanugo (penugem em todo o corpo);
- Poderá haver perda de menstruação.
Sintomas Psicológicos:
Distorção da Imagem Corporal;
Alterações de humor, depressão, irritabilidade;
Crenças erradas quanto ao peso;
Procura constante do perfeccionismo;
Perda de interesse pelas actividades normais;
Isolamento;
Interesse excessivo por comida, calorias e receitas;
Dificuldade em concentrar-se;
Auto-estima determinada pela ingestão ou não de alimentos;
Culpa e/ou vergonha ao alimentar-se;
Sintomas Comportamentais:
Prática excessiva de exercício físico;
Cozinhar para os outros, mas não comer;
Frequentes desculpas para não comer (indisposição, refeição feita à pouco
tempo, etc.);
Pesagens constantes;
Vestir roupas largas;
Práticas alimentares pouco comuns (cortar a comida em pedacinhos,
mordiscar os alimentos);
Dificuldade em alimentar-se em público;
Secretismo quanto a hábitos alimentares.
Todas estas alterações bruscas e constantes na vida do sujeito têm um alto risco associado, podendo provocar problemas de saúde que comprometem quer a qualidade de vida, quer a própria vida. Os riscos mais comuns são a fadiga e perda de energia; a ausência de menstruação ou menstruação irregular; a infertilidade; os problemas de pele; a desidratação; a falta de ar; os batimentos cardíacos irregulares;o inchaço nas extremidades;a prisão de ventre; o enfraquecimento e a queda de cabelo;os problemas de estômago;a osteoporose;os problemas de fígado e rins;o desequilíbrio dos electrólitos;a redução dos níveis de potássio (causa comum de paragem cardíaca);a anemia; e as perturbações de foro emocional (como a Depressão).

A Bulimia Nervosa afecta, sobretudo, mulheres no fim da adolescência e inicio da vida adulta (apesar de haver cada vez mais relatos de aumento de incidência em mulheres com 30, 40 e 50 anos). Na Bulimia Nervosa ocorrem momentos de grande voracidade alimentar (com a ingestão de grandes quantidades de alimentos), ao que se seguem momentos de grande culpabilização e vergonha, podendo levar a um período de restrição alimentar para compensar os estragos feitos anteriormente. Frequentemente recorrem a estratégias para perder peso ou evitar o seu ganho, após estes momentos de ingestão compulsiva, como o vómito auto-induzido, o jejum, o recurso a laxantes ou/e a clísteres ou a exercício físico intensivo.
Os sintomas mais frequentemente apresentados são:
Sintomas Físicos:
Frequentes oscilações no peso;
Garganta irritada e glândulas inchadas;
Fadiga;
Dificuldades a nível so sono;
Irregularidade menstrual;
Sinal de Russell;
Vasos sanguíneos rebentados;
Fraqueza muscular;
Problemas dentários.
Sintomas Psicológicos:
Labilidade emocional;
Depressão;
Obsessão por dietas;
Dificuldade de auto-controlo;
Severa auto-crítica;
Auto-estima determinada pelo peso;
Medo de não conseguir parar de comer voluntariamente;
Pensamentos de auto-censura depois de comer;
Sintomas Comportamentais:
Ingestão de grandes quantidades de alimentos;
Indisposição após as refeições;
Idas à casa de banho logo após a refeição;
Comer às escondidas;
Abuso de laxantes, substâncias para emagrecer e diuréticos;
Uso de clísteres;
– Induzir o vómito;
Isolamento;
Exercício físico em demasia;
Jejum prolongado e frequente;
Fuga a restaurantes, refeições planeadas e eventos sociais.
Similarmente á Anorexia Nervosa, também nesta perturbação há um risco elevado de distúrbios que poderão afectar gravemente a saúde, nomeadamente:
- Cansaço e perda de energia;
Menstruação irregular ou inexistente;
Dores de cabeça e tonturas;
Desidratação;
Prisão de ventre e diarreia;
Falta de ar;
Batimentos cardíacos irregulares;
Queda de cabelo;
Inchaço e dores de estômago;
Perda do esmalte dentário e cáries;
Irritação crónica da garganta;
Problemas de fígado e rins;
Aumento da glândula parótida;
Desequilíbrio hidroelectrolítico;
Mãos e Pés inchados;
Úlceras;
Dilatação e ruptura gástrica;
Escoriações nas mãos e articulações;
Anemia;
- Depressão e ansiedade;
Paragem cardíaca e morte.
É importante salientar que nestas perturbações, dados os riscos elevados para a saúde física e mental, é impriscindível uma intervenção atempada e multidisciplinar (Psicólogo, Psiquiatra, Nutricionista, Médico de Família, etc.):
  • Psiquiatras: Garantir o tratamento psiquiátrico por psicofarmacoterapia;
  • Psicólogos: Psicoterapia individual, terapia, orientação familiar, terapia cognitivo-comportamental;
  • Nutricionista: reabilitação nutricional, recuperação de peso, cessação de comportamentos para perda de peso, melhoria dos hábitos alimentares;
  • Médico: Supervisionar as alterações de saúde através de exames complementares regulares. Intervir sobre eventuais problemas de saúde decorrentes dos comportamentos desta perturbação.